Gestores teriam usado carro da Prefeitura para viagens particulares e assessores estariam recebendo salário cheio, mesmo com muitas faltas, dentre outras irregularidades
A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos, Trabalho e Políticas Públicas para Juventude atravessa uma crise sem precedentes. Diversos servidores que ainda estão em atividade pela Secretaria, que foram exonerados ou que saíram para outro setor da Prefeitura procuraram o EcoSerrano para fazer denúncias graves contra a atual gestão da Secretária Simone de Almeida Pinto e do Subsecretário, Diogo Bastos.
As denúncias trazidas à tona pelo EcoSerrano e que o leitor terá acesso foram obtidas através de relatos de testemunhas, que por razões de segurança não quiseram se identificar, além do acesso à documentos públicos que versam sobre os fatos narrados. Apesar dos relatos das testemunhas envolvidas, o EcoSerrano esclarece que as situações expostas a seguir estão sendo investigadas e nenhuma conclusão foi feita até o momento.
Como tudo começou
No início de janeiro, Diogo Bastos teria sido apresentado por um vereador ao então Secretário de Assistência Social e de Governo, Marcinho Alves, como indicação para ser o Subsecretário de Assistência Social. O nome de Diogo, inclusive, já teria tido o aval do prefeito Johnny Maycon.
Ao que parece, a pedido do Prefeito, Marcinho teria acatado a indicação de Diogo, que teria sido apresentado na gestão da Secretaria para toda equipe naquela mesma semana. No entanto, por conta de alguns trâmites burocráticos, inicialmente, Diogo teria sido informado que não ocuparia o cargo de Subsecretário de Assistência Social, mas que seria conduzido à posição em questão de tempo. Ao saber da notícia, Diogo não teria concordado com a situação e, ao que tudo indica, sua discordância teria causado um mal estar dentro da secretaria. O fato, ao que parece, levou Marcinho a brecar a entrada de Diogo na Assistência Social. Marcinho também teria falado diretamente com Johnny sobre a situação e o Prefeito teria aceitado, então, o veto ao nome de Diogo.
Troca de Secretários
De volta à Câmara de Vereadores, Marcinho Alves foi substituído por Simone de Almeida Pinto em 14 de fevereiro. Tida como profissional experiente, técnica e competente, Simone esteve a frente da pasta no governo de Rogério Cabral.
Segundo relatos de funcionários da Secretaria, assim que Simone chegou a gestão, logo em seguida, entrou Diogo Bastos. Simone e Diogo já trabalharam juntos em algumas oportunidades e , por isso, ela seria de sua confiança. Ao que tudo indica, a Secretária teria feito questão da presença de Diogo no Município para ser o Subsecretário da pasta.
Logo na primeira semana, Simone teria começado a fazer algumas mudanças dentro da gestão. As testemunhas afirmam que, apesar de terem sido mudanças “simples”, elas teriam começado a fazer o clima pesar e daria o tom do que estaria por vir.
A principal mudança, segundo contam as testemunhas, foi o isolamento total da sala da Secretária e do Subsecretário. Antes, com Marcinho Alves, os servidores teriam livre acesso a sala do gestor, que estava sempre aberta, sem a necessidade de trancar – mesmo que Marcinho não estivesse na secretaria – já que o Secretário também dividia o espaço com outros assessores. Na gestão de Simone, a sala em questão, ao que parece, passou a ser ocupada apenas por ela e Diogo. Segundo dizem as testemunhas, o espaço estaria boa parte do tempo de portas fechadas e, quando Simone e Diogo não estão na gestão, ao que tudo indica, a sala fica trancada.
Choque de Ordem
No dia 15 de março, Simone de Almeida e Diogo Bastos estiveram em Brasília para uma série de compromissos em nome da Prefeitura. Nesta data, cerca de 15 servidores foram comunicados de sua exoneração. O detalhe é que estes servidores teriam sido comunicados de suas exonerações por Letícia Guimarães da Silva, que, segundo contam as testemunhas, até então não havia sido apresentada à equipe e nem havia sido nomeada oficialmente através do diário oficial.
As fontes afirmam que alguns servidores conseguiram reverter as exonerações. Em alguns casos, tanto o Prefeito Johnny Maycon, quanto o Vice-Prefeito, Serginho, teriam agido pessoalmente e impedido a saída de algumas pessoas.
Ainda de acordo com algumas testemunhas, um desses servidores teria se recusado a aceitar a exoneração porque estaria sendo comunicado por uma funcionária (Letícia), que até então, não estava oficialmente no cargo e porque os gestores estavam fora do Município, naquele momento. Este fato, inclusive, chamou atenção. Diversos funcionários da Secretaria teriam considerado um ato de covardia de Simone e Diogo. Segundo os relatos, acredita-se que os dois teriam planejado as exonerações para que fossem realizadas enquanto estivessem em viagem, a fim de que não tivessem que lidar com a situação.
Quando voltou de viagem, a Secretária teria sido questionada sobre a exoneração de alguns servidores. Segundo as fontes contaram ao EcoSerrano, Simone teria dito, então, que não havia exonerado ninguém e que essas informações seriam “fake news”.
Ainda na mesma semana em que os servidores foram comunicados das exonerações, testemunhas afirmam que a sede da Secretaria teria recebido cerca de 10 pessoas ligadas a um parlamentar, com currículos na mão. Segundo relataram ao EcoSerrano, todas essas pessoas teriam sido nomeadas em equipamentos da Secretaria de Assistência Social.
Erro na data de exoneração
Cerca de duas semanas depois, a extensa lista de servidores exonerados – que a Secretária teria dito que seria “fake news” – foi publicada no Diário Oficial. No entanto, segundo apontam algumas fontes, a data de exoneração estaria errada. No Diário Oficial, a data de exoneração conta com efeitos do dia 14 de março, mas as testemunhas afirmam que trabalharam até o dia 15 de março.
As admissões, ao que parecem, também estão com a data errada. Isso porque consta no Diário Oficial “com efeitos” do dia 14 de março, mas como afirmam as testemunhas, essas pessoas não poderiam ser admitidas nesta data porque seus antecessores ainda não haviam sido comunicados da exoneração, que só ocorreu no dia 15 de março e, portanto, o cargo não estaria vago.
Nesse mesmo sentido, as testemunhas afirmam que grande parte dos recém-nomeados não se encontravam nos equipamentos ou na gestão nos dias 14 e 15 de março, tendo comparecido com a documentação para admissão somente posterior a essa data, o que constituiria uma irregularidade na nomeação dos servidores.
As fontes contaram ao EcoSerrano, que no final de março, um determinado servidor da Secretaria de Assistência Social não teria sido comunicado de sua exoneração e teria descoberto por meio da publicação do Diário Oficial. A data de exoneração também estava com efeitos do dia 14 de março, mesmo tendo trabalhado praticamente o mês inteiro sem a informação de que estava exonerado.
Mal estar no Conselho Municipal
Um dos servidores concursados, que acumulava um cargo em comissão, também ocupava a cadeira de vice-presidente do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS). Este servidor afirma que ao ser comunicado de sua exoneração do cargo em comissão que ocupava, a ele foi oferecido um cargo com ganhos 50% menores do que tinha naquele momento, mas para desempenhar o mesmo trabalho na gestão de processos, com as mesmas responsabilidades. O servidor teria recusado a proposta e teria sido convidado a trabalhar em outra Secretaria, motivo pelo qual solicitou que fosse colocado à disposição pela Secretária. Por conta disso, o servidor em questão precisou redigir uma carta de renúncia como vice-presidente do CMAS. Na carta, que é pública e que o leitor pode conferir na íntegra no final do texto, consta esta insatisfação. No documento, consta também que sua exoneração do cargo comissionado e dos demais colegas seriam “sem critério, sem respeito e de forma autoritária”.
Em resposta, Simone redigiu uma carta ao CMAS justificando os critérios que serviram de base para a exoneração do servidor em questão. Na justificativa, a Secretária se mostrou perplexa com a carta do servidor e disse que diante do fato, instaurou uma auditoria interna. Simone informou ao CMAS que o servidor ocultou fatos relevantes aos conselheiros. Na auditoria, a Secretária disse que o servidor em questão teria deixado acumular diversos processos, perdido prazo para aplicar recursos, teria abandonado o cargo de forma intempestiva, entre outras acusações, que podem ser lidas no final do texto. A reportagem procurou o servidor para falar sobre as acusações da Secretária. O servidor informou que já protocolou outro documento junto ao CMAS para responder às acusações de Simone.
Cadeado na porta teria sido gota d’água
Nas semanas que se seguiram, segundo contam as testemunhas, o clima na gestão não era dos melhores. A rotina de trabalho teria passado a ter exigências “fora do comum” tanto da Secretária Simone de Almeida, quanto do Subsecretário, Diogo Bastos.
O “caldo entornou de vez” na última segunda-feira, 2, quando os servidores da Assistência Social teriam chegado a gestão para trabalhar e encontrado a porta trancada com um cadeado novo. Sem a possibilidade de entrarem na gestão, os servidores teriam esperado até que alguém com a chave nova pudesse abrir a porta.
Pouco tempo depois, por volta das 09h30, as testemunhas afirmam que um dos assessores da secretária, Tiago Campos Arrigui Araújo, teria comunicado em tom elevado que a razão pela qual houve a troca de cadeados era porque teriam sumido processos dentro da Secretaria. Segundo afirmaram as fontes ao EcoSerrano, o assessor também teria comunicado aos funcionários da pasta que haveria apenas um único horário de trabalho e que “quem não estivesse de acordo, deveria pedir pra sair”, relataram.
Diante da situação, alguns servidores teriam pedido informações sobre os tais documentos que haviam sumido, mas não obtiveram sucesso. Em face aos fatos, quatro servidores que estariam em desacordo com o atual momento da secretaria, pediram para ficar à disposição da Prefeitura e serem remanejados para outros setores do Município.
Secretária é chamada de pedante e desrespeitosa por ex-servidores
A saída de alguns servidores trouxe à tona denúncias sérias em relação ao comportamento de Simone de Almeida e Diogo Bastos.
“Presenciei várias humilhações a funcionários, para mim foi um alívio sair daquele local e ambiente conturbados. É uma pena. Dediquei alguns anos dentro da gestão. O ambiente era complicado porque a secretária é de lua e você não sabe o dia em que ela está legal”, disse uma testemunha.
Uma outra testemunha contou ao EcoSerrano que em mais de uma oportunidade, recebia mensagens do subsecretário fora de expediente, “pedindo coisas de trabalho, cobrando coisas e querendo resultados imediatos”.
Outro ex-servidor faz acusações ainda mais graves com relação a Simone de Almeida. “A secretária é totalmente desequilibrada, trata todos com ignorância, é pedante, desrespeitosa e arrogante”.
“Ela é terrível, é vingativa. Eu tenho medo”, disse outra pessoa que teria presenciado atitudes da Secretária que poderiam ser vistas como retaliações a desafetos dentro da Secretaria.
Ratos no almoxarifado seriam razão para descarte de alimentos de cestas básicas
De acordo com um servidor, Simone de Almeida e Diogo Bastos estariam perdendo o controle da situação. Segundo o relato, o almoxarifado da Secretaria de Assistência Social estaria sendo alvo constante de roedores. Por conta disso, uma série de alimentos teriam sido descartados após o flagrante de fezes de ratos em cima desses alimentos. Outra denúncia dá conta de que diversos produtos teriam sido jogados fora por extrapolar o prazo de validade. Ainda de acordo com o autor da denúncia, ao EcoSerrano, ele afirma que alguns funcionários dos CRAS estariam dificultando a entrega de cestas básicas e teriam negado o benefício para um pessoa que estaria apta a receber os alimentos.
Utilização da Secretaria para fins pessoais
Diversos servidores, em contato com o EcoSerrano, denunciaram ao portal que tanto a Secretária de Assistência Social, Simone de Almeida, quanto o Subsecretário, Diogo Bastos, teriam se beneficiado da máquina pública para fins pessoais.
As testemunhas afirmam que Simone de Almeida teria utilizado um carro da Prefeitura e um motorista do Município para ser levada e trazida até Petrópolis, cidade onde tem familiares e pessoas próximas e onde morava antes de reassumir o cargo. As mesmas testemunhas contaram ainda que Diogo Bastos também teria se utilizado de um veículo e motorista do Município para ir e voltar a Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Nenhuma dessas viagens, ao que tudo indica, seriam em missões oficiais, segundo afirmam as testemunhas.
Ao EcoSerrano, as fontes afirmam ainda que existem vídeos e fotos com provas das viagens dos dois gestores, que Secretários do primeiro escalão estariam cientes e que até o Prefeito Johnny Maycon teria conhecimento sobre a situação.
Na gestão da Secretaria, ex-servidores relatam que dois assessores da secretária, Letícia Guimarães da Silva e Tiago Campos Arrigui Araújo, não estariam cumprindo a carga horária correta e, mesmo assim, a Secretária estaria atestando a frequência dos dois. “Letícia e Thiago fazem rodízio no trabalho, um trabalha segunda, terça e quarta e o outro reveza. Um trabalho cerca quatro dias na semana e o outro apenas três”.
“Na semana do feriado de Tiradentes (21 de abril), o feriado caiu na quinta-feira, e o prefeito deu ponto facultativo na sexta-feira (22). Nesta semana, a Letícia trabalhou somente na quarta-feira, (20). Na semana seguinte, o Tiago não veio (trabalhar) na segunda-feira (25). E são eles que detém os maiores salários da secretaria.”, denunciou outra testemunha.
Segundo apurou o EcoSerrano, através do DIário Oficial, o servidor Tiago Campos Arrigui Araújo, ocupa o cargo de Coordenador de Nível Superior I de Apoio Administrativo III, com salário de R$ 3.087,41, enquanto a servidora Letícia Guimarães da Silva, ocupa o cargo de Gerente de Nível Superior II de Políticas Públicas Para Juventude, com salário de R$ 3.499,06. O Subsecretário Diogo Bastos, tem o salário de R$ 5.145,68.
Prefeito teria ciência de toda a situação
Na última terça-feira, 3, alguns servidores exonerados e outros que colocaram o cargo à disposição, teriam ido até o gabinete do Prefeito para uma conversa com Johnny Maycon. No entanto, os servidores teriam sido recebidos pela Secretária de Gabinete, Mayra Martins, o Chefe de Gabinete, Felipe Schenkel e o Procurador do Município, João Figueiró.
Segundo informações obtidas pelo EcoSerrano, os servidores teriam contado toda a realidade da gestão de Simone de Almeida e Diogo Bastos, incluindo as denúncias relatadas acima. Diante da situação, as informações dão conta de que os gestores da Secretaria de Assistência Social seriam chamados ao Gabinete do Prefeito para prestar esclarecimentos.
Uma outra reunião entre os servidores e o prefeito foi marcada para a manhã desta quinta-feira, 5, com o objetivo de resolver toda a situação. Novamente, o prefeito não pode comparecer por conta de sua agenda e os servidores teriam sido recebidos pela Secretária e Chefe de Gabinete.
Aos servidores, teria sido proposto que permanecessem na Secretaria de Assistência Social, mas fora da gestão para evitar maior proximidade com Simone e Diogo.
Segundo informações, a proposta, ao que parece, seria realocar os servidores em equipamentos da pasta porque, segundo relatou uma pessoa ao EcoSerrano, “não seria bom sair todo mundo ao mesmo tempo”. Uma outra pessoa informou ao portal que estuda a proposta da Prefeitura, mas estaria indecisa em permanecer na Secretaria de Assistência Social por medo de uma possível retaliação e perseguição dos gestores.
Ao que parece, tanto Mayra Martins quanto Felipe Schenkel e João Figueiró teriam informado, na última terça-feira, que caso ficasse evidenciado este tipo de comportamento, o gabinete do Prefeito deveria ser informado imediatamente para que fossem tomadas as devidas providências em relação aos gestores.
O que diz a Prefeitura?
O EcoSerrano entrou em contato com a Comunicação (Secom) do Município pedindo um posicionamento dos envolvidos. Ao longo desta quinta-feira, 5, o portal também entrou em contato direto com a Secretária Simone de Almeida, o Subsecretário, Diogo Bastos e o Prefeito Johnny Maycon.
Durante esta quinta-feira, o portal estendeu o prazo para que o posicionamento dos citados pudesse ser enviado e constasse na reportagem. No entanto, mesmo após a prorrogação do prazo, o EcoSerrano não obteve retorno.
Caso o município envie um posicionamento sobre as denúncias, o portal irá atualizar a reportagem.






