Humorista condenado por piadas gordofóbicas e transfóbicas vai se apresentar em Friburgo

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Propaganda do evento causa polêmica ao utilizar termo “humor negro”, “para atingir público alvo” do artista, recém demitido por fazer piada de uma criança com hidrocefalia

No início de agosto, o humorista Léo Lins vai se apresentar em Nova Friburgo, no Nova Friburgo Country Clube. É a segunda apresentação do artista em três anos. Considerada polêmica, seus shows arrancam risadas por onde passa, mas também críticas.

Recentemente, em uma de suas apresentações, Léo Lins se envolveu em uma grande polêmica ao fazer uma piada sobre hidrocefalia e citar o Teleton, programa do SBT, onde trabalhava, que arrecada dinheiro para crianças com deficiência. Por esta razão, o humorista foi demitido do programa The Noite, apresentado por Danilo Gentilli e da emissora de Silvio Santos.

“Eu acho muito legal o Teleton, porque eles ajudam crianças com vários tipos de problemas. Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes”, declarou ao público.

Histórico de condenações

O artista possui um histórico de polêmicas, algumas das quais ele já foi condenado pela justiça. Segundo uma reportagem do UOL veiculada em 4 de julho deste ano, Léo Lins expôs a influenciadora Thais Carla ao fazer piada sobre um vídeo em que ela demonstra a dificuldade de pessoas gordas para ter acesso às poltronas de avião.

O artista foi condenado a pagar R$ 5 mil por isso. A juíza Carolina Almeida da Cunha Guedes evidenciou que o comportamento dele foi ofensivo, promoveu discurso de ódio e incitou outras pessoas a atacarem a dançarina nas redes sociais, “exalando inequívoca gordofobia”.

A reportagem cita ainda outro caso envolvendo a modelo Bia Gremion e seu namorado Lorenzo, um homem trans. Léo Lins teria usado a imagem da modelo plus size e de Lorenzo, nas redes sociais. Na foto, o casal aparece de lingerie para abordar a autoestima. “Chamei sua atenção? Que bom”, escreveu ele, antes de divulgar data e local das apresentações. Em entrevista a Universa, Bia, de 23 anos, reforçou que além de fazer piada com o corpo dos dois, ele incitou centenas de comentários negativos. Bia chegou a fazer uma denuncia na 52ª DP de São Paulo.

Condenação por piada transfóbica

Ainda de acordo com a reportagem do UOL, a Justiça de São Paulo, em fevereiro deste ano, condenou o humorista a pagar uma indenização de R$ 15 mil por ter feito piadas com uma mulher transgênero. O fato aconteceu em 2018 quando o humorista gravou um vídeo para divulgar um show na cidade de Jacareí, no interior de São Paulo.

No início da gravação, ele compara a história da cidade com a da cabeleireira Whitney Martins de Oliveira. “O povoamento da região só começou em 1652 com a chegada de Antônio Afonso, fundador de Nossa Senhora da Conceição da Parayba, que cresceu e virou Jacareí”, disse. “Assim como Jurandir, que cresceu e virou Babalu”, referindo-se ao antigo nome e ao apelido de Whitney. O então funcionário do SBT usou a imagem de Whitney na divulgação, que fez a denúncia por se sentir exposta.

A juíza Mariana Sperb, que condenou o humorista, afirmou que ele fez chacota de Whitney. “O conteúdo do vídeo a tratou com zombaria e deboche”, afirmou a jurista na sentença.

Piada com a Chapecoense e impedido de entrar no Japão

Segundo o UOL, Léo Lins também teria feito piadas em pelo menos duas oportunidades com a queda do avião que vitimou 71 pessoas, entre jogadores e comissão técnica do time da Chapecoense-SC, jornalistas e dirigentes do time. Uma delas, ele teria chamado de “pão da chape” um pão feito na chapa que tivesse caído no chão.

A reportagem finaliza contando o episódio em que o artista teve seu visto para entrar no Japão negado, após fazer piadas com o país, em que teria associado os gracejos à série de tragédias em 2011, que envolveu um terremoto, tsunami e acidente nuclear. Brasileiros que viviam no país fizeram um abaixo-assinado para que ele não fosse autorizado a entrar no país asiático. O documento foi encaminhado ao consulado e, dias depois, ele perdeu o visto que havia conseguido. A embaixada informou que o episódio não teve ligação com a negação do visto ao artista. 

E por falar em tragédia de 2011, antes da sua primeira visita a cidade, o artista gravou um vídeo em que citava algumas peculiaridades de Nova Friburgo, entre elas fez menção ao episódio de fake news do rompimento de uma barragem na cidade, em meio ao caos da tragédia climática que vitimou 442 pessoas, entre outras centenas de pessoas pela região serrana.

A reportagem completa, do site UOL, pode ser lida aqui.

Estratégia de divulgação

Ao dar publicidade ao evento, a Multiply Produções, organizadora da apresentação, teria feito uso de uma expressão já em desuso e muito combatida nos dias atuais: #humornegro. 

Questionada pelo EcoSerrano, a empresa justificou que a utilização da hashtag tem como objetivo atingir o público alvo do artista, que seriam os seus seguidores.

A reportagem também entrou em contato com o Nova Friburgo Country Clube, local onde será realizada a apresentação. O clube informou que desconhecia as polêmicas envolvendo o artista, bem como a publicação da agência com a utilização da hashtag.

De acordo com o NFCC, a diretoria será informada, o caso será levado aos conselheiros que vão averiguar a situação e tomar as medidas cabíveis, se necessário. O clube também ressaltou que não compactua e não é conivente com ações deste tipo.

Repúdio

O EcoSerrano consultou também algumas lideranças negras do município sobre a presença do artista em Nova Friburgo e a forma utilizada para dar publicidade à apresentação. Com a palavra, Luana Negralu, Demétrio de Oliveira e Paulo César Lourenço, membros do Coletivo Negro Lélia Gonzalez.

“É perturbador que em 2022 ainda tenhamos que debater sobre esse tipo de questão tão rasa, tão mesquinha, mas que ao mesmo tempo colabora de forma tão cruel para perpetuar todo tipo de opressão que limita, constrange, maltrata, silencia e mata as ditas minorias deste país. Há tempos a gente vem debatendo sobre racismo, homofobia, gordofobia, capacitismo. Lutando e resistindo. Veja bem que não se trata do “politicamente correto”. Aqui estamos falando da não banalização no mal, do que é desumano, do que adoece o outro e compromete a saúde mental de indivíduos pertencentes ao que veem como fora do padrão.

Primeiramente, falando sobre o estopim da sua demissão do canal de televisão, a pseudo piada feita sobre uma criança com hidrocefalia é perturbadora. Essa é a única palavra que encontro para definir. Hoje, como bacharelanda em Psicologia, tenho a oportunidade e o prazer em trabalhar com crianças com deficiência, e ao tomar conhecimento desse escárnio, senti repulsa, nojo e medo. Medo pelo que cada uma daquelas crianças, as quais acolho e trabalho para que evoluam cada dia mais, ainda terão que enfrentar em suas vidas nessa sociedade composta por “cidadãos de bem” tão perversos.

Gostaria também de falar sobre para quem é direcionado esse tipo de show e tais pseudo piadas. Quem consome esse tipo de humor? Quem valida aquele que comete crimes atacando a vulnerabilidade do outro? Um público que consome e se empanturra desse conteúdo, já se declarou, ainda que não em palavras, racistas, homofobicos, preconceituosos, tendo como agravante o exemplo do presidente da República que imita uma pessoa sem ar em plena pandemia de Covid-19 ou se refere aos negros quilombolas como tendo seu peso em arrobas, como se fossem animais. O presidente chocou esse ovo,  deu coragem para pessoas perversas como essa saísse da toca. Sem pudor. A vinda desse show de horrores para Friburgo não me surpreende. Uma cidade que se auto intitula Suíça brasileira, negando a contribuição e importância da população negra na construção da cidade; uma cidade onde já fui xingada, cuspida, chamada de macumbeira e macaca diversas vezes. Infelizmente, não me surpreende. 

Por fim, mas não menos importante, vamos falar sobre o termo “humor negro”. Convenhamos que, para um pseudo humorista racista, chamar de humor negro é uma forma descarada de provocação. Estão tentando a todo custo deslegitimar a nossa luta, as nossas conquistas, o nosso protagonismo, a nossa voz. Se incomodam com o lugar que passamos a ocupar e que iremos cada vez mais. Querem a perpetuação do racismo, porque é um lugar confortável para eles. O racismo tenta nos matar todos os dias, mas como diz Conceição Evaristo, nós combinamos de não morrer. 

Para ele e para aqueles que se alimentam dos conteúdos dele, saibam que o povo preto, a população LGBTQIA+, indígenas, pessoas com deficiência, mulheres, macumbeiros e todas as minorias em direitos, vieram para revolucionar. Essa sim, é uma nova era no Brasil.”, escreveu Luana.

“Humoristas como esse senhor, não podem ser considerados como tal, porque não fazem piada, fazem ataques, cometem crimes. Humor é aquilo que faz todo mundo rir e às vezes até refletir. Sobre o público alvo dele, se veio para Friburgo, veio ao lugar certo. Como homem negro, posso afirmar o quanto de situações de racismo e violência já vivenciei nessa cidade. Uma cidade que abriga pessoas assumidamente racistas, homofóbicas e preconceituosas. Zombar daquilo que traz sofrimento ao outro é desumano. E isso é uma característica desse sujeito. Máscara uma personalidade perversa a transformando em humor.

É lamentável! Em 2018, essas pessoas vieram a tona sendo atitudes vis como essa amparadas pela autoridade máxima do país, o presidente. A certeza da impunidade somada à perversidade. Ele comete crimes e eu espero que pague por isso. Esse tipo de humor transforma o sofrimento das pessoas em vitimismo. Mimimi é toda dor que não dói em você.”, disse Demétrio.

“Fazendo uma publicação como essa, dentro desta perspectiva, não era para ir ninguém. É pior ainda a empresa dar voz a pessoas como essa. Nos últimos tempos as redes sociais deram voz a muitos idiotas. O Coletivo Negro Lélia Gonzalez repudia de forma veemente porque é a forma como este artista trata a população. Ganhar a vida de forma chacotear as pessoas não é correto. Tudo que é muito ruim dura pouco. E lamentamos que uma empresa possa trazer esse artista para nossa cidade”, falou Paulo César.

Aspecto jurídico

O EcoSerrano consultou ainda a advogada Dra. Tamires Corrêa, sobre as implicações jurídicas de se usar o termo “humor negro”. “Nas palavras do Ministro Alexandre de Moraes, o direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias”. A legislação prevê, ainda, os comportamentos considerados de essência preconceituosa, como xingamentos, que podem configurar a injúria racista, prevista  no art. 140, §3º., Código Penal.”, explicou a Dra. Tamires.

Ainda segundo a advogada, a liberdade de expressão não pode ser um aval para que as pessoas falem o que pensam sem avaliar seu impacto social. “O limite do humor, da arte e das expressões vai até onde não seja ofensa proposital e deliberada de induzir ou incitar o preconceito”, concluiu.

2 comentários

Gladstonier 17 de outubro de 2022 - 10:09

Se você dedicasse o tempo que gastou escrevendo essa baboseira estudando sobre humor, entenderia a besteirada que falou. Humor negro vem de “Black Humor” e não se refere à etnia, a palavra “negro” tem várias aplicações que não a cor da pele. Vocês querem proibir piadas que sejam ofensivas para vocês em um show privado, mas e as piadas que são ofensivas para evangélicos, também devem ser proibidas ou vocês possuem o monopólio da ofensa? E concordo com a bacharelanda (que deveria se estudar o que a psicologia diz sobre o humor, quem sabe ela se livre de uma ignorância), mas concordo com ela somente que não se trata de politicamente correto, essa palavra foi uma palavra neutra, inventada pela esquerda para proibir pautas que são defendidas pelos progressitas, mas quem não faz parte da turma do esquerdisticamente correto pode ser ofendido sem nenhum problema. Não gosta do Show? Não consuma, é bem simples.

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Edgar Ueno 28 de janeiro de 2023 - 03:06

A esquerda gosta de todas as formas de arte, então aprenda a gostar desse tipo de arte também que muitas pessoas apreciam e pagam.

Não existe censura de arte só porque isso te ofende. E se não gostou, estude o artista dê algumas chances e veja se realmente é o seu tipo de conteúdo.

Mas se for censurar essa arte então pode censurar Anitta, Pablo Vittar, peça do macaquinhos, todos os tipos de música em volume alto… não existe censurar só porque você não gosta.

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