Victória Affonso quer que setores público e privado dêem mais apoio aos talentos do município, muitos deles vindos de projetos sociais
A friburguense Victória Affonso, de apenas 19 anos, desponta no cenário esportivo do município como uma das principais promessas das artes marciais. Moradora do distrito de Conselheiro Paulino, a atleta já acumula resultados importantes, como o primeiro lugar em um campeonato de jiu-jitsu da cidade, na categoria pluma.
“Iniciei no Kickboxing, em 2011, quando tinha 8 anos de idade. Sempre gostei muito de esporte, mas com ênfase nas lutas. Por lá me graduei na faixa amarela e depois na faixa laranja, com 15 anos”, contou a lutadora.
Foi quando estava em uma loja de artigos esportivos que Victória conheceu aquele que viria ser o seu mestre, Filipe Grativol. À convite de Filipe, a atleta passou a integrar a equipe Grativol Brazilian jiu-jitsu school, na academia Brazilian Fight. “Essa transição do kickboxing para o jiu-jitsu foi muito importante, não só como atleta, mas como ser humano”, lembrou.
“Até a faixa amarela eu praticava por hobby, mas foi faixa laranja em que tive o “start” para as competições”, disse a atleta. E os resultados foram animadores. Em sua primeira competição de jiu-jitsu, e ainda com pouco treinamento, Victória conquistou o segundo lugar no Open Lumiar de jiu-jitsu. No mesmo torneio, em ocasiões posteriores, a atleta também alcançou o pódio. “Após alguns torneios, me sagrei campeã em um campeonato fechado. O título veio depois de uma luta contra um adversário aqui de Nova Friburgo. Pela falta de adversárias mulheres, competi com um menino”. A nível estadual, Victória chegou a competir na Taça Rio de jiu-jitsu e fez bonito, ao conquistar o terceiro lugar. “Logo depois veio a pandemia e tive que dar um tempo, por questões de segurança. Em 2022, depois de muito esperar, retornei ao tatame. Minhas perspectivas são boas, tendo em vista alguns campeonatos regionais e do cenário nacional. Meu foco é conquistar os principais títulos: Brasileiro e Mundial”.
Poucas adversárias
Apesar do crescimento de muitas mulheres pela atividade esportiva, não há em Nova Friburgo e região um apoio grande para que essas mulheres se interessem pelas competições. Victória afirma que já deixou de competir em alguns campeonatos por não ter adversária. “Eu já fui em campeonatos para lutar e não pude, porque não havia atletas mulheres. A luta é um ambiente predominantemente masculino”, lamentou.
De acordo com a atleta, graças à pioneira como Yvone Duarte, primeira faixa coral do jiu-jitsu, que também é indígena e uma mulher feminista, essas barreiras foram sendo quebradas dentro da modalidade. “A própria Kyra Gracie e a Nika Schwinden, entre outras grandes mulheres do jiu-jitsu, às novas mentalidades dos “Black Belt” e os praticantes ajudaram a criar um ambiente agradável para todos os atletas”.
Vale ressaltar que houve uma época em que as mulheres eram proibidas, por meio de um decreto, de praticar qualquer esporte. “Às mulheres, não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de Sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o decreto, a lei 3.199 de 14 de abril de 1941”, dizia a Lei.
“Uma lei que refere a mulher como incapaz de praticar esportes não condiz com a realidade da força feminina, pois, mesmo no período dessa norma, que foi revogada em 1979, elas já faziam esportes, mostrando luta e coragem para enfrentar os preconceitos”, lembrou Victória, com orgulho.
A luta também é fora dos tatames
Falta incentivo. Segundo a atleta, setores que poderiam ajudar a descoberta de novos talentos não demonstram tanto interesse. “O Brasil é o maior celeiro de artes marciais. Precisamos de oportunidades para chegarmos ao nosso objetivo. É muito talento desperdiçado por não ter apoio financeiro”.
Os gastos são dos mais variados tipos: viagens, equipamentos, alimentação, inscrição de torneios, entre outros. “Vamos da forma que dá, não temos estrutura que banque os custos. É muito difícil conseguir patrocínio. As pessoas geralmente não dão chance a lutadores amadores. Eu mesma só consegui fechar três parcerias, foram pessoas boas que me incentivaram a continuar. Uma floricultura, o supermercado Cavalo Preto e o Crescente Gastronomia”, agradeceu.
“Ser atleta no Brasil é dar murro em ponta de faca. Só com muito amor que a gente resiste. Eu preciso de um patrocínio para que possa me manter nas competições”, alertou a lutadora.
A cidade que já revelou para o mundo talentos como Edson Barbosa e Marlon Moraes, certamente tem outros tantos lutadores que precisam de apoio. São jovens que estão inseridos em projetos sociais, mas que por lá ficam escondidos diante da falta de apoio. “A maioria desses talentos vem de lá. E não é só para fins competitivos, mas para promover a cidadania, a cultura e o bem estar social. Eu como atleta e também militante das pautas sociais vejo isso de uma forma bem clara e nítida”, concluiu Victória.